Natal, ou a História da Bondade de Deus...

Ao meditar o nascimento de Jesus como o Acontecimento de uma Pessoa na História, o Novo Testamento está muito longe de pensar num menino deitado numa manjedoura de palha aquecido por animais, que seria apenas um belo apelo à paz e ao amor que dura até ao dia seguinte após o Ano Novo, quando regressamos todos à nossa rotina. Rotina, muitas vezes, de luta, rivalidade, agressão, egoísmo - onde já vai o Natal…

O Novo Testamento nasce e parte, como testemunho de Fé dos discípulos, a partir da Páscoa/Ressurreição de Jesus no que significa de Salvação para toda a Humanidade: a vida de cada homem e mulher, integradas nesta bela e grandiosa Família Humana, ficam afectadas no mais intimo por este Acontecimento de Vida Nova e Transformante. «O que havemos de fazer?» perguntam as pessoas a Pedro após este anunciar o Acontecimento da Ressurreição de Jesus como Confirmação da parte de Deus (Act 2,37). «Como responder perante este Apelo?»…

A partir da Ressurreição, os discípulos vão proclamar/cantar o mistério pessoal deste Homem que nasce num dia concreto num lugar concreto desta História. Paulo interpreta este nascimento como o inicio de uma nova Era da História Humana, a Era da Salvação, a Plenitude dos Tempos. Este Nascimento, deste Homem, que se torna Universal na sua Ressurreição ou Nascimento Pascal, marca o inicio de uma nova fase da relação da Humanidade com Deus: a relação filial.

«Mas, quando chegou a Plenitude dos Tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! - Pai!" Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus.» (Gal 4,4-7).

Do mesmo modo, os Evangelhos de Mateus e Lucas apresentam os relatos catequeticos da Infancia de Jesus como o cumprimento das Promessas e Esperanças feitas a Israel: Mateus apresenta os Magos do Oriente a chegarem a Belém como cumprimento da profecia de Is 60 em que a todos os Povos são convidados a participar da Aliança de Israel com Deus. Já Lucas apresenta o Resto Fiél de Israel (pastores, Simeão, Ana, mas sobretudo Maria e José), fiel às Promessas, a acolher a Jesus como o Salvador que realiza essas Promessas e Esperanças. Diz Simeão: «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» (Lc 2,29).

Finalmente, João no seu Prólogo chegará mais longe, e apresenta o Natal à luz de toda a História de Deus com a Humanidade, uma História de uma Palavra que é um Filho, um Filho que se revela em Jesus de Nazaré como Graça e Plenitude para todos, um Filho que se torna o Sentido Pleno de toda a Criação, um Filho que «Encarna e monta a sua Tenda entre nós» no sentido bíblico da verdadeira Presença e Encontro humano com Ele, no Rosto e na Pessoa Humana de Jesus de Nazaré. Um Filho que desde toda a Eternidade é Palavra, Amor acolhido e gerado do Abbá, e que em Jesus se torna para todos aquilo que é o auge deste Prólogo, o princípio da Salvação: «Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1,12).

É à luz de todo este Projecto de Salvação, de toda a História de Deus com a Humanidade particularmente com Israel, que podemos celebrar o Natal. Natal, nascimento deste Homem que se revela, para nós os discípulos, como o Ressuscitado, o Primogénito, o Filho. Em quem somos Filhos, gerados no Espírito Santo como Filhos do Abbá neste Familia de Comunhão que se chama Humanidade. Afonso, como um apaixonado, cantará esta Beleza deste Mistério de Salvação a acontecer num rosto concreto de uma Pessoa concreta, pelo Mistério de Eleição:

«O Homem não me ama porque não me pode ver – parece que pensou o Senhor. Para conquistar o seu amor, eu me mostrarei visivelmente, conversarei com ele. Pois embora o Amor de Deus fosse de sobra desde a Eternidade, não se havia evidenciado ainda em toda a sua grande incompreensível, o que aconteceu sim quando Jesus se fez ver como menino» E Afonso cita a passagem de Paulo na Carta a Tito:

«Mas, quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, Ele salvou-nos, não em virtude de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas da sua misericórdia, mediante um novo nascimento e renovação do Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador» (Tit 3,4-6).

É este Projecto de Salvação, este Sonho de Bondade, que os redentoristas são chamados a aprofundar e proclamar como uma Boa-Noticia: «Testemunhas do Evangelho da graça de Deus, os Redentoristas proclamam, antes de tudo, a sublime vocação do homem e do gênero humano. Sabem que todos os homens são pecadores, mas sabem igualmente que esses mesmos homens já foram de um modo mais profundo escolhidos, salvos e reunidos em Cristo» (Constituição 7). Em Jesus revela-se a vocação plena do Homem como vocação filial de Salvação: por isso ele é o Homem verdadeiro em quem a nossa vida, a nossa construção pessoal tem sentido e verdade:

«Realmente, eles sabem que o mistério do homem e a verdade de sua vocação integral somente se desvendam verdadeiramente no Mistério do Verbo Encarnado. Desse modo tornam presente a obra da redenção em sua totalidade, ao darem testemunho de que aquele que segue a Cristo, homem perfeito, torna-se ele mesmo mais homem» (Constituição 19).

Que este Natal seja para ti a celebração alegre e partilhada deste Projecto de Salvação e Amor que se revela e inaugura naquele Homem que um dia nasceu, e cujo nascimento celebramos, pela Tradição, no dia 25 de Dezembro. Que a tua vida seja cada vez mais marcada por esta alegria de renascer no Espírito Santo na Filiação, segundo a fraternidade que aquele Homem, Palavra do Amor do Abbá, chamado de Jesus de Nazaré, inaugurou. É que te desejamos, companheir@ de missão. Bom Natal!

«Amado Redentor
Se me tivesses permitido pedir-te a maior prova de Amor,
Jamais teria ocorrido a mim
Pedir-te que nascesses menino.
Mas tu fizeste o que nunca me teria atrevido nem a pensar…»
(Afonso)

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