
É hoje reconhecida grande amizade que Afonso teve com Sarnelli. Muitas das obras que Afonso escreveu mais tarde partiram de esquemas e livros incompletos que Sarnelli deixou. É como que um dos Pais da fundação da CSsR.
Partilho um texto dele, breve, que considero interessante. Trata-se de um dos muitos textos que usava na catequese e evangelização fundamental de adultos em Nápoles. Naturalmente que temos de aceitar a linguagem própria do século XVIII. Um grande abraço!
«Para adquirir o amor cristão, não se deve olhar o próximo com os olhos humanos, mas com os olhos da fé. Quem olha o próximo com os olhos humanos, o reconhece muitas vezes como indigno, abominável, soberbo, fastidioso, inoportuno, inquieto, inimigo, perseguidor, malfeitor. E aí o coração humano inclina-se a os olhos humanos a desdenhá-lo, a língua humana a dizer mal, a mente humana a desprezá-lo e por vezes as mãos humanas correm para ofendê-lo.
Mas quando a alma se na fé e com os olhos da fé vê o próximo, parece-lhe outra coisa muito diferente de antes. Descobre-o digno de ser estimado, auxiliado, amado como a si próprio, seja ele uma pessoa comum, em qualquer estado e condição que se encontre, e quaisquer que sejam os seus tratos, costumes e comportamentos, ainda que os considere amargos e desagradáveis.
A razão humana pinta o próximo tal como ele é na sua natureza. A razão da fé propõe-no como ele é em Deus. Por isso, se o homem se sente movido a desprezar um outro homem defeituoso, o cristão, e ainda mais a alma espiritual, não deve desprezá-lo, mas estimá-lo e amá-lo com um coração fiel como a própria vida.
Eis o que é o nosso próximo visto à luz da fé e revisto com olhos fiéis. Qualquer próximo se encontra no seio de Deus. É criatura de Deus, formado à imagem da Santíssima Trindade. Como crente é membro do corpo da Igreja, de quem a cabeça é Cristo; é filho adoptivo de Deus, readquirido a aspergido com o sangue de Jesus Cristo; é templo do Espírito Santo, herdeiro do Paraíso, companheiro de anjos e de santos, nosso irmão e comensal nesta Igreja militante na terra, e depois na triunfante no céu.
Assim, pertencendo o homem por tantos títulos e cuidados a Deus e a nós, não pode Deus não ficar enormemente honrado pela caridade que nós usamos com o próximo. Pelo qual, não pode não ficar Deus enormemente ofendido pela injúria que façamos ao próximo. Ele recorda-nos que quem ofende as suas criaturas racionais, ofende a pupila dos seus olhos. A fé ensina esta grande verdade. E alma deve viver e esperar na fé, se quer encontrar-se fiel diante de Deus.
Vê, ó alma, quanto Deus é zeloso da caridade que deves usar para com o próximo. E com quanta razão pretende de ti um perfeitíssimo exercício desta santa caridade e como te deves desempenhar com toda a minúcia e perfeição, se queres tornar-te grata àquela imensa e eterna caridade divina, a qual não pode não derramar a plenitude do seu amor sobre aquelas almas que espalham toda a sua caridade para com o próximo, pelo amor e pela honra do Deus que o pede.»
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