Gennaro Sarnelli cssr (1702-1744)

Celebramos hoje, 30 de Junho, o aniversário da morte de Gennaro Sarnelli, redentorista beatificado em 1996. Grande companheiro de Afonso de Ligório, nos inícios da Congregação, nasceu em 1702 filho de um grande proprietário em Ciorani. Seguindo a carreira de advogado, acabou, como Afonso, por dedicar a sua vida ao Evangelho sendo ordenado presbítero em 1731. Destacou-se sobretudo pelo grande trabalho de evangelização que desenvolveu em Nápoles, nas zonas periféricas e mais empobrecidas. Escreveu numerosos livros sobretudo destinados à catequisação fundamental e básica das pessoas e, sendo filho de uma família abastada, aplicou muito dos seus bens na assistência e recuperação de mulheres que viviam na prostituição, e em evitar que jovens de zonas desfavorecidas seguissem o mesmo caminho. Tornando-se redentorista em 1736, continuou como responsável das missões e evangelização da periferia de Nápoles até morrer, por esgotamento e doença em 1744, com 42 anos.

É hoje reconhecida grande amizade que Afonso teve com Sarnelli. Muitas das obras que Afonso escreveu mais tarde partiram de esquemas e livros incompletos que Sarnelli deixou. É como que um dos Pais da fundação da CSsR.

Partilho um texto dele, breve, que considero interessante. Trata-se de um dos muitos textos que usava na catequese e evangelização fundamental de adultos em Nápoles. Naturalmente que temos de aceitar a linguagem própria do século XVIII. Um grande abraço!


«Para adquirir o amor cristão, não se deve olhar o próximo com os olhos humanos, mas com os olhos da fé. Quem olha o próximo com os olhos humanos, o reconhece muitas vezes como indigno, abominável, soberbo, fastidioso, inoportuno, inquieto, inimigo, perseguidor, malfeitor. E aí o coração humano inclina-se a os olhos humanos a desdenhá-lo, a língua humana a dizer mal, a mente humana a desprezá-lo e por vezes as mãos humanas correm para ofendê-lo.

Mas quando a alma se na fé e com os olhos da fé vê o próximo, parece-lhe outra coisa muito diferente de antes. Descobre-o digno de ser estimado, auxiliado, amado como a si próprio, seja ele uma pessoa comum, em qualquer estado e condição que se encontre, e quaisquer que sejam os seus tratos, costumes e comportamentos, ainda que os considere amargos e desagradáveis.

A razão humana pinta o próximo tal como ele é na sua natureza. A razão da fé propõe-no como ele é em Deus. Por isso, se o homem se sente movido a desprezar um outro homem defeituoso, o cristão, e ainda mais a alma espiritual, não deve desprezá-lo, mas estimá-lo e amá-lo com um coração fiel como a própria vida.

Eis o que é o nosso próximo visto à luz da fé e revisto com olhos fiéis. Qualquer próximo se encontra no seio de Deus. É criatura de Deus, formado à imagem da Santíssima Trindade. Como crente é membro do corpo da Igreja, de quem a cabeça é Cristo; é filho adoptivo de Deus, readquirido a aspergido com o sangue de Jesus Cristo; é templo do Espírito Santo, herdeiro do Paraíso, companheiro de anjos e de santos, nosso irmão e comensal nesta Igreja militante na terra, e depois na triunfante no céu.

Assim, pertencendo o homem por tantos títulos e cuidados a Deus e a nós, não pode Deus não ficar enormemente honrado pela caridade que nós usamos com o próximo. Pelo qual, não pode não ficar Deus enormemente ofendido pela injúria que façamos ao próximo. Ele recorda-nos que quem ofende as suas criaturas racionais, ofende a pupila dos seus olhos. A fé ensina esta grande verdade. E alma deve viver e esperar na fé, se quer encontrar-se fiel diante de Deus.

Vê, ó alma, quanto Deus é zeloso da caridade que deves usar para com o próximo. E com quanta razão pretende de ti um perfeitíssimo exercício desta santa caridade e como te deves desempenhar com toda a minúcia e perfeição, se queres tornar-te grata àquela imensa e eterna caridade divina, a qual não pode não derramar a plenitude do seu amor sobre aquelas almas que espalham toda a sua caridade para com o próximo, pelo amor e pela honra do Deus que o pede.»

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