I. Bebendo
de nosso próprio poço
Um modo redentorista de entender a redenção começa com
Santo Afonso. Não diferentemente de nossa própria época, a sociedade na qual
Deus chamou Afonso de Ligório para proclamar a copiosa redenção apresentava
enormes desafios. Ele vivia numa mudança de época, no ponto crítico de
transição da sociedade medieval para o novo e audaz mundo do Iluminismo. Afonso
tomou conhecimento dos pobres mais abandonados, que muitíssimas vezes eram
esquecidos nas prioridades políticas, econômicas e culturais do seu tempo. Ao
mesmo tempo, estava consciente de sua própria necessidade de conversão, se
quisesse responder fielmente ao chamado de Deus.
Muitos de seus contemporâneos achavam-se afastados de
Deus por causa das imagens inadequadas de Deus que lhes eram apresentadas e
devido a um legalismo opressor na espiritualidade e na moral. Afonso combateu
essas distorções do Evangelho com uma robusta prática pastoral, imbuída de um
espírito clarividente de oração e contemplação. Sua pregação da redenção tocou
os corações das pessoas que tinham chegado ao ponto de imaginar a Deus quando
muito como remoto e indiferente, e no pior dos casos, como um tirano cruel.
Para Afonso a totalidade da vida cristã está
centrada em Jesus e sua obra da redenção. Se queremos entender a intuição
espiritual de nosso Fundador, então creio que o enfoque crucial não é na redenção
como categoria abstrata, mas antes na pessoa do Redentor. Para Afonso, uma
abordagem cristológica é indispensável, pois é o Redentor que revela o que é a
redenção. O Redentor representa o verdadeiro caráter de Deus em toda a sua
plenitude. Quem é Deus? O que Deus pensa dos seres humanos? Como Deus actua com
os seres humanos? Afonso une sua voz a Jesus no Evangelho de João: “Pois de tal
modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que não morra
quem nele crê, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não mandou seu Filho ao mundo
para condenar o mundo, mas para que por meio dele o mundo seja salvo” (Jo 3,
16-17).
O
mistério da redenção não consiste em que nós nos tornemos dignos de Deus, mas
antes em que, em Cristo Jesus, Deus nos faz dignos dele (Cl 1, 12-14; Ef 1,
3-14). Essa compreensão do desejo de Deus de transformar os seres humanos pelo
amor é um elemento importante da visão de Afonso. A redenção torna-se a entrega
livre de alguém na admiração e na gratidão pelo amor de Deus que é dado em Cristo
Jesus por meio do Espírito.
A missão dos Redentoristas é levar as pessoas ao
ponto crucial da vida cristã: o amor de Deus que é poderosamente revelado em
Jesus Cristo. No centro da vida e do ministério da Congregação está o próprio
mistério da redenção. Nós Redentoristas nascemos no coração de um ardoroso
discípulo de Jesus, que ardia de zelo pela redenção de todos, com especial
preferência pelos pobres, aqueles que tinham sido abandonados pelas práticas
pastorais do seu tempo e pelos critérios da sua sociedade.
Por
meio de Jesus o amor redentor do Pai atinge cada pessoa individualmente. Na
perspectiva de Afonso, o amor de Deus não é anunciado abstratamente, mas por
meio de histórias que ilustram o amor pessoal de Deus a cada pessoa e espera de
cada qual uma resposta de conversão. A transformação do mundo se realiza por
uma mudança pessoal do coração e pela obediência ao plano de Deus como foi
revelado em Jesus. Como seres humanos, nós também temos uma necessidade básica
de pertença, de sermos parte de um projeto mais amplo que nos conduza para além
de nossos pequenos mundos pessoais. O amor redentor de Deus produz uma mudança
em nossas relações, unindo-nos como comunidades na Igreja (Const. 12), a qual
nos confia a missão de comunicar aos outros o amor que experimentamos no
Redentor.
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