Anúncio explicito do Evangelho

Ao apresentar a missão da Congregação, Afonso insiste que esta identifica-se com a própria missão de Jesus: anunciar o Evangelho do Reino de Deus aos pobres. «Tenho de levar também às demais cidades a boa-nova do Reino de Deus, pois para isso fui enviado» (Lc 4, 43). As Constituições redentoristas chamam à atenção que o mistério da missão da Congregação insere-se no próprio mistério da missão de Cristo e da Igreja, já que Jesus envia os Apóstolos a continuar a sua obra: «Quem recebe aquele que eu enviar recebe a mim, e que me recebe, recebe aquele que me enviou» (Jo 13, 20).

Declara a Constituição n°1: “A Congregação participa do mandato da Igreja que, por ser sacramento universal de salvação, é, por natureza, missionária. Isso a Congregação realiza atendendo, com dinamismo missionário, às urgências pastorais e se esforçando por evangelizar os homens mais abandonados, principalmente os pobres”. A Congregação participa e realiza a missão de Cristo e da Igreja, a missão do Reino, e desenvolve a sua Vida Apostólica:
· pela evangelização explícita;
· pela opção preferencial em favor dos pobres
como afirma a Constituição 5: “A preferência pelas condições de necessidade pastoral ou pela evangelização propriamente dita e a opção em favor dos pobres constituem a própria razão de ser da Congregação na Igreja e o distintivo de sua fidelidade à vocação recebida”. Procuremos desenvolver estes dois pontos, começando pela obra da evangelização. Não nos esqueçamos, contudo, que ambos são indissociáveis: as iniciativas de evangelização que os redentoristas desenvolvem devem dirigir-se aos mais abandonados, pela Igreja e pela Sociedade, preferencialmente os pobres; e ao dirigir-se a estes, o redentorista o deve fazer como evangelizador e tendo como única proposta e resposta o Evangelho do Reino.

“Os Redentoristas têm na Igreja, como sua principal missão, a proclamação explícita da Palavra de Deus para a conversão fundamental” (Const. 10). É este o seu papel na Igreja, no centro da sua missão. Deve ser esta a única preocupação de cada redentorista, é este o seu papel no Reino, é deste modo que segue a Jesus Cristo como seu discípulo. Estamos no coração da intuição de Afonso.

A Const. 28 chama os redentoristas de ministros, servidores da Revelação. E a Const. 20: “Seguindo contentes a Cristo Salvador, participam de seu mistério e anunciam-no com evangélica simplicidade de vida e de linguagem, pela abnegação de si mesmos, pela disponibilidade constante para as coisas mais difíceis, a fim de levar aos homens a copiosa redenção”.

É importante compreendermos que, falar de evangelização, é falar de algo mais vasto e profundo que determinadas actividades. É falar de Missão, de Vida Apostólica, em que, seguindo a Jesus Cristo, o descobrimos como a própria Boa-Nova, e toda a nossa vida se transforma à luz da Palavra.

Os redentoristas entregam a sua vida pelo anúncio do Evangelho. Que Evangelho? A Boa-Nova de Cristo, a Boa-Nova do Reino pela qual ele e os seus discípulos dão a vida, a Boa-Nova do Amor do Pai revelado e realizado em Jesus que se torna, por isso, a Palavra do Pai. “Esse anúncio visa especialmente a abundante redenção, isto é o amor de Deus Pai que nos amou primeiro, e nos enviou seu Filho, como propiciação pelos nossos pecados e que pelo Espírito Santo vivifica a todos os que n’Ele crêem. Essa redenção atinge o homem todo, aperfeiçoa e transfigura todos os valores humanos, para que todas as coisas sejam recapituladas em Cristo e conduzidas a seu fim: uma nova terra e um novo céu” (Const. 6).

Os redentoristas anunciam essa Boa-Nova porque conhecem a sua importância para o Homem, está na raiz da sua vocação à luz do Projecto de Deus-Pai: “Testemunhas do Evangelho da graça de Deus, os Redentoristas proclamam, antes de tudo, a sublime vocação do homem e do género humano. Sabem que todos os homens são pecadores, mas sabem igualmente que esses mesmos homens já foram de um modo mais profundo escolhidos, salvos e reunidos em Cristo” (Const. 7).

Eles anunciam porque são os primeiros a descobrir as consequências desse Evangelho, dessa Aliança com Cristo, desse Amor do Pai nas suas vidas. Levam assim os homens a descobrir o Rosto alegre do cristianismo, diante de um mundo que propõe critérios contrários à humanização e fraternidade, e diante de uma Igreja que muitas vezes não dá testemunho da Alegria que vem do Ressuscitado.

Mas, para quê anunciar o Evangelho? Com que fim? Que consequências tem e exige o anuncio da Salvação em Cristo? O Amor de Deus torna-se a proposta de uma Aliança. O Seu Reino não é imposto, mas propõe-se. Precisa de ser acolhido, e o modo de acolher e construir o Reino é a conversão pessoal: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino de Deus» (Mt 4, 17). O anúncio de Jesus convida os homens a viver no espírito das Bem-Aventuranças, na lógica de Deus, guiados pelo Espirito Santo. É deste modo que o Reino avança na história como dinâmica de Vida Nova e Eterna.

Ora, o anúncio missionário torna-se chamada de consciência e convite a esta vocação fundamental: Porque todo aquele que invoca o Nome do Senhor será salvo. Ora, como poderão invocar Aquele em quem não acreditaram? Como poderão acreditar, se não ouviram falar d'Ele? E como poderão ouvir, se não houver quem O anuncie? Como poderão anunciar se ninguém for enviado? Como diz a Escritura: «Como são belos os pés daqueles que anunciam boas notícias!» (Rm 10, 13-15). Os redentoristas assumem esta urgência, esta missão num Reino e numa Igreja que precisam ainda de escutar a Palavra para ganharem um rosto mais evangélico.

“Tendo recebido por graça o ministério da reconciliação os Redentoristas transmitem aos homens o anúncio da salvação e o tempo favorável, para que se convertam e creiam no Evangelho, vivam verdadeiramente o baptismo e se revistam da nova criatura. Dessa forma os Redentoristas são apóstolos da conversão, pois sua pregação tem como finalidade principal levar os homens à opção radical ou à decisão de vida por Cristo e conduzi-los com vigor e, ao mesmo tempo, com suavidade à conversão plena e contínua” (Const. 11).

O anúncio conduz os homens que o acolhem a iniciar um caminho no Espirito, que só pode acontecer em contexto comunitário. «Por isso, a construção de comunidades cristas que sejam sal, luz e fermento no mundo» (cf. Mt 5, 13-14), sinal do Reino e contexto de vivencia das Bem-Aventuranças, é um mesmo fim da evangelização: “A conversão pessoal, porém, se realiza na comunidade eclesial. Por isso a finalidade de toda a obra missionária é suscitar e formar comunidades tais que levem vida digna da vocação a que foram chamadas, e exerçam a tríplice função que lhes foi atribuída pelo próprio Deus: sacerdotal, profética e régia. (...). Dessa maneira torna-se a comunidade cristã sinal da presença de Deus no mundo. Alimentada pela Palavra de Deus dá testemunho de Cristo, passa sem cessar com Cristo ao Pai pelo mistério eucarístico, caminha na caridade e se inflama no espírito apostólico” (Const. 12).

Por fim, esse anúncio acontece numa abertura e conhecimento em relação ao mundo no qual os redentoristas vivem, sabendo que o Evangelho corresponde à plena humanização de todas as pessoas: “Para desenvolverem uma obra missionária eficaz, além de cooperar com todos na Igreja, devem ter adequado conhecimento e experiência do mundo. Praticam, pois, no mundo, o diálogo missionário com toda a confiança. Interpretem fraternalmente as angústias dos homens, para discernir nelas os verdadeiros sinais da presença e do desígnio de Deus. Realmente, eles sabem que o mistério do homem e a verdade de sua vocação integral somente se desvendam verdadeiramente no Mistério do Verbo Encarnado. Desse modo tornam presente a obra da redenção em sua totalidade, ao darem testemunho de que aquele que segue a Cristo, homem perfeito, torna-se ele mesmo mais homem” (Const. 19).

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