A opção de Afonso

No início desta aventura chamada Congregação do Santíssimo Redentor (CSsR), está a iniciativa de um homem chamado Afonso de Ligório. A questão fundamental é esta: porque decidiu Afonso, padre napolitano dedicado à pregação e à catequese das zonas pobres de Nápoles, fundar uma nova Congregação, uma nova família na Igreja, em 1732? Ao faze-lo, que intenção perseguia?

Em 1730, Afonso é padre há quatro anos. Tem 34 anos. Dedica-se activamente à pregação na cidade de Nápoles. Com outros companheiros, dedica-se a uma obra por ele iniciada de reunião e evangelização de comerciantes e operários nos subúrbios de Nápoles, denominada de Capelas do Entardecer. Leva o Evangelho a sério: sabe que todos são chamados a conhecer e a acolher o Amor de Cristo, e a corresponder com um caminho de santidade. Todos, até as multidões de abandonados espiritual e materialmente dos arredores de Nápoles. Em pequenos grupos liderados por leigos, inicia um caminho de catequização fundamental da Fé, dos deveres a que um cristão deve corresponder, da vida de oração que o leva a enamorar-se de Deus. Tudo numa linguagem simples.

Além disso, Afonso pertence a uma associação de padres diocesanos a quem chamam de “Missões Apostólicas” dedicada a desenvolver missões paroquiais de evangelização nos subúrbios e zonas rurais de Nápoles. São acções extraordinárias de anúncio do Evangelho em locais sem assistência espiritual ou ritmo de vida crista. Afonso é um dos membros mais activos.

Estas duas actividades nas quais Afonso se entrega são fundamentais para a sua formação como missionário. Nas Capelas descobre a importância de criar ritmos comunitários de catequese fundamental e oração entre os leigos das camadas mais pobres, para que caminhem numa vida crista no meio dos seus contextos sociais. Nas Missões Apostólicas descobre a importância de desenvolver acções extraordinárias de evangelização – as missões populares – nas zonas abandonadas pela Igreja institucional, onde o Evangelho não é conhecido, para criar aqueles mesmos ritmos de vida crista. Só falta que Afonso saia de Nápoles...

Isso acontecerá em 1730. Depois de 4 anos de intensa actividade, Afonso cai esgotado. Os médicos recomendam-lhe que passe uns dias de descanso na zona de Amalfi, na costa mediterrânica. Aí, no cimo da montanha, na pequena cidade de Scala, Afonso descobrirá a situação em que vivem centenas e milhares de pastores e camponeses por todo o Reino de Nápoles: “é frequente não terem quem lhes administre os santos sacramentos e lhes anuncie a Palavra de Deus, ao ponto de muitos deles morrerem na ignorância dos próprios mistérios de Fé necessários para a salvação, por serem poucos os sacerdotes, que de modo especial se dedicam aos pobres camponeses, seja por causa dos gastos necessários, seja por causa dos incómodos que tal tarefa acarreta”. Vendo a multidão, comoveu-se por eles, porque andavam maltratados e prostrados, como ovelhas sem pastor (Mt 9, 36). “O que se pode fazer por eles?” é a pergunta que Afonso fará. Em 2 anos descobrirá que o Espirito o consagra a ele como resposta. Em 1732 está de regresso a Scala. Deixou o ministério em Nápoles para se dedicar a estes “pobres camponeses

Cada Congregação nasce e vive de um carisma. Carisma vem de karis, Graça em grego. Um carisma é uma resposta que o Espirito Santo suscita diante de uma necessidade da comunidade e do Reino, sempre através de pessoas concretas. Um fundador inicia esta resposta, que deve ser continuada por outras pessoas enquanto existe essa necessidade.

Para Afonso, a necessidade é simples: camponeses e pastores a quem não é anunciado o Evangelho por estarem nas zonas rurais. Afonso encontra uma falha da Igreja institucional, e descobre-se enviado pelo Espirito a colaborar na resposta: anunciando a Palavra de Deus a esses abandonados.

Para Afonso, os elementos essenciais deste novo Instituto são:
· Dedicar-se aos abandonados espiritualmente nas regiões rurais do Reino de Nápoles;
· Através de “missões, instruções e outros exercícios”
· E os seus membros vivem em comunidade totalmente dedicados a esta missão; as suas casas “estejam sempre fora das povoações e no meio das dioceses mais necessitadas, para assim melhor se dedicarem aos que moram na zona rural, e melhor ajuda-los”.

E assim nasce a Congregação do Santíssimo Salvador, depois mudada para Santíssimo Redentor. A sua data de nascimento oficial é 9 de Novembro de 1732, em Scala. Hoje, a Congregação do Santíssimo Redentor chegou a uma dimensão universal. Tem uma história de 275 anos, e está espalhada por todos os continentes. Por isso hoje, como na sua história, encontrou desafios e contextos diferentes dos de Afonso. Encontrou outros abandonados que não os pastores de Scala; encontrou outras formas de resposta que não as missões populares.

No entanto, o seu carisma, isto é, a resposta que o Espirito Santo dá a uma necessidade do Reino através da Congregação, é o mesmo. Continua a ser o anúncio do Evangelho àqueles que não o conhecem porque estão afastados e abandonados pela Igreja institucional. Através de missionários dedicados a Cristo nessa Missão e unidos pelos laços comunitários. Hoje continuam a existir os abandonados a quem é preciso anunciar o Evangelho da Salvação. Através de formas que o Espirito inspira. Afonso foi quem começou este caminho na Igreja, e o que o Espirito lhe inspirou continua a ser referencia para os redentoristas de hoje.

Sem comentários: