O Redentorista

E, a 25 de Fevereiro de 1749, 16 anos após a fundação, a Congregação recebe finalmente a aprovação papal. Já não era sem tempo! A partir de agora, é reconhecida oficialmente como uma família dentro da Igreja, com o seu jeito próprio de abraçar a missão apostólica de continuar Cristo hoje, no mundo. Na altura, contava com 34 padres, no sul de Itália. Hoje, entre padres e irmãos, são cerca de 5500 espalhados por todo o mundo, sem contar com todos os leigos que, pela sua ligação no Espírito Santo, são verdadeiros redentoristas!

A Congregação é aprovada com o nome de Santíssimo Redentor, e não Salvador, por já haver um instituto com esse nome. Pensemos um pouco no sentido da palavra redentorista. O redentorista é, claro, como qualquer cristão, discípulo de Cristo. Mas o que significa falar de Cristo enquanto Redentor?

O Amor é fecundo. Desde o princípio, Deus, como Família de Amor em plenitude, sonha o Homem como fruto Seu. Desde o princípio, o Espírito Santo, o “sopro de vida”, torna o Homem “um ser vivente” (Gn 2, 7), moldando-o “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1, 27), ou seja, possibilitando-o a que se realize como pessoa.

Deus ama demais o Homem para o criar perfeito, e, por isso, ao sétimo dia, descansa, retira-se, afasta-se (Gn 2, 2,). O Homem está chamado a construir-se, a tomar parte na sua própria Criação, para passar do sexto dia para o dia de Deus, o sétimo. É esse o Projecto de Deus.

Mas o Homem, desde o princípio, consegue introduzir na marcha da Criação, ritmos contrários ao Amor. Torna-se a fonte de critérios para si próprio, representado pela posse do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal (Gn 3, 6). Isto fá-lo esconder-se de Deus, e romper as relações entre homem e mulher e com a Criação. Os filhos provocam o fratricídio, o contrário ao Projecto de Deus. É a lógica do pecado. O Homem afasta-se da Árvore da Vida.

Mas nem isso faz alterar o Projecto de Deus. O Seu Amor é perfeito, e não desiste. Por isso, o mesmo Espírito Santo que constantemente vai apelando no íntimo de cada um no sentido da construção pessoal, vai também revelando o Projecto de Deus para todos os homens. Surge um Povo com quem Deus faz uma Aliança, o povo de Abraão, que deveria anunciar a todos os povos esse Amor criador. Mas esse Povo vai tendo também as suas infidelidades… E nem por isso Deus desiste.

Até que, na “Plenitude dos Tempos”, Deus enviou o Seu Filho, portador do Espírito Santo sem medida, para realizar o Seu Projecto: a assunção do Homem na Sua Família, como filhos em relação a Deus-Pai, irmãos em relação a Deus-Filho. Jesus de Nazaré, na Sua Ressurreição, possibilita que o Espírito Santo se espalhe por toda a Humanidade não só como humanizador e revelador, mas já também como divinizador (Gal 4, 4-7). O Homem já pode comer do fruto da Árvore da Vida (Ap 22, 2)

Assim, Jesus de Nazaré é o Cristo, o Redentor do Homem: pelo Seu Espírito Santo somos resgatados do pecado para entrarmos na comunhão com Deus. Anunciar a Jesus como o Redentor é anunciar o Amor de Deus como iniciativa de reconciliação, esse Amor primeiro, que não tem em conta o nosso pecado. Porque o Amor de Deus é maior que todas as infidelidades do Homem. Por isso, de modo particular, Afonso e os redentoristas se dirigem aos mais abandonados: têm a Boa-Nova do Amor não desistente de Deus! À imagem de Jesus de Nazaré, que sempre se dirigiu aos “impuros” da lei judaica…

Esta é a nossa visão acerca do significado do nome “redentoristas”. E o nosso Afonso? Com a aprovação papal, continua a trabalhar nas missões. As dificuldades são grandes, e poucos são os que suportam a dura vida de missionários junto dos mais pobres. Uns morrem, outros desistem. Mas o lema de Afonso é simples: “basta poucos, desde que queiram ser santos”. Prefere-o a que sejam muitos, pois teme a infidelidade mais do que qualquer outra coisa.

Em todo o caso, não pensemos que aquela vida de canseiras e privações resultasse da vontade de Afonso! É a pobreza evangélica, a que conduz à liberdade, não deixando os missionários dependentes de interesses políticos e económicos das classes nobres; assim, o seu anúncio podia ser verdadeiramente profético. Mas o facto de viverem entre os pobres e a desconfiança do poder real acerca das novas fundações colocavam constantemente a jovem Congregação em perigo de se dissolver. Muitas vezes Afonso é obrigado, contra sua vontade, a regressar a Nápoles para negociar licenças de construção de casas e novas missões com o governo; isso não o impede de ser muito requisitado na capital para retiros e pregações. E continua sem perder um minuto da sua vida.

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