O Santo


Finalmente, a 9 de Maio de 1775, à quinta tentativa, a renúncia de Afonso é aceite pelo Papa. Foram treze anos como bispo, em que levou o Evangelho de Jesus Cristo a S. Águeda dos Godos. Regressa à sua casa redentorista em Pagani. Está doente e cansado, mas continua a atender e a escrever, sempre a avisar o seu editor de que pode ser a sua última obra… durante doze anos. Já o seu pai José lhe dizia que era um grande teimoso e de cabeça dura!

Continua como o líder dos redentoristas, escrevendo Cartas Circulares onde apela aos novos que se mantenham fiéis ao Espírito Santo na Congregação, ao amor a Jesus Cristo. Dá instruções também sobre o bom funcionamento das missões.

Em 1772, a Congregação sai do estado de Nápoles, chegando aos chamados Estados Pontifícios, a norte, cuja capital é Roma e cujo governador é o próprio Papa. Também já havia chegado à ilha da Sicília, a sul.

Mas estes dois estados tinham diferentes sistemas e governadores, e neste caso eram opositores. O poder real de Nápoles pressionava uma separação entre o poder político e o poder religioso, e o Papa não gostava. Esse facto irá afectar a vida da Congregação na última fase da vida de Afonso.
Afonso, em Nápoles, tem de lidar com o seu rei – e os missionários que estão nos Estados Pontifícios não. Surge a divisão. Estes recusam a autoridade de Afonso em 1780, sob pressão do Papa, por acharem que Afonso está controlado pelo rei de Nápoles. A própria aceitação da Congregação em Roma fica em causa. Surgem dois governos.

Isto não impede que a Congregação se expanda no estado romano, e que Afonso lhes escreva a louvá-los e a pedir que continuem o seu trabalho! O que aconteceu foi que, enquanto Afonso esteve distante como bispo, o governo da Congregação não se renovou, permanecendo desde o tempo da fundação. Os novos membros que entretanto entravam não terão sido bem acompanhados.

A partir daí, Afonso cai gravemente doente. Já não consegue escrever ou rezar a não ser no seu quarto. Os escrúpulos, que toda a vida o acompanharam, assaltam-no em força. Terá sido fiel na sua vida? Terá alguma vez desrespeitado a vontade de Deus? Qual será sua sorte no dia do Juízo? Eram as questões que Afonso constantemente se colocava. Não nos podemos esquecer do tempo de grande rigorismo moral e temor que predominava; se Afonso procurava libertar as pessoas desses medos, mais se sobrecarregava a si próprio.

Finalmente, morrerá a 1 de Agosto de 1787, com 90 anos. A sua Congregação, no Estado de Nápoles e nos Estados Pontifícios, conta com 183 membros. Morrerá acompanhado de inúmeros irmãos, especialmente dos mais novos.

Em 1790, temos a reunificação da Congregação, e não mais se separará. Entretanto, em 1785, um alemão, de nome Clemente Hofbauer, é ordenado padre como redentorista, em Roma, com 34 anos. Parte de Itália, e irá fundar a Congregação para lá dos Alpes, na Áustria, Polónia e Suiça. Será o “S. Paulo” da Congregação. No séc. XIX, os redentoristas chegarão aos EUA, a acompanhar os emigrantes alemães, os abandonados dessa época. Chegarão a Portugal em 1826 pela primeira vez, estabelecendo-se definitivamente em 1935, após diversas expulsões.

Falar de Afonso é falar de uma história de fidelidade. Por fidelidade, no meio das suas muitas imperfeições próprias de alguém em construção, procurou regressar às origens da Igreja, ao zelo apostólico e ao amor a Jesus Cristo. Permanecer fiel ao espírito de Afonso é permanecer fiel a estas dimensões. Na minha experiência pessoal, ser redentorista é sobretudo crescer como cristão maduro e apaixonado. Como Afonso o foi.

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