Seguimento de Jesus pelo Reino


No final de um ano chamado Noviciado, como Missionários Redentoristas nos decidimos firmemente a viver o Evangelho com o jeito Missionário e Apostólico; então acontece uma Celebração muito importante: a Profissão Religiosa. A palavra “Profissão” vem de “Pro-Fessare”, que significa, “dar bom testemunho”. A Profissão Religiosa é o distintivo do estilo de Vida na Igreja chamada “Vida Religiosa” ou “Vida Consagrada”.

Mas, afinal, qual o sentido da Vida Religiosa na Igreja? Porque existe este jeito especial de viver o Evangelho? É outra categoria de discípulos, tipo uma classe à parte, uma elite? E o que os distingue dos “outros padres”?

Para compreender esta opção de vida, é obrigatório ter presente o significado do Baptismo. Jesus nunca criou classes distintas de discípulos, como se os houvesse “de primeira divisão” e de “segunda”. Jesus convida homens e mulheres a serem seus discípulos na construção do Reino de Deus. Esta vocação cristã, a ser o Cristo hoje, é proclamada e assumida… no Baptismo!

No Baptismo, que infelizmente não temos muito valorizado por estarmos habituados a fazê-lo enquanto crianças, encontramos consequências e exigências, não impossíveis ou sobre-humanas, mas verdadeiras e reais. A vivência do Baptismo no Espírito Santo de Jesus Ressuscitado, a escuta da Palavra e o configurar o Coração nela, a pertença e construção de contextos comunitários de oração e fraternidade, tudo são exigências do Baptismo para a emergência do Reino de Deus.

Tudo em função do único mandamento do Amor a Deus e aos irmãos. Estas são as dimensões fundamentais de viver como cristão, em Igreja. Então, se todos são chamados a viver estas dimensões, como surgiu a Vida Religiosa na Igreja?
A Igreja, Corpo de Cristo, “é apenas uma, com muitos membros”, mas existe diversidade de carismas. Na carta aos Efésios, diz Paulo: “um só é o Senhor, um só o Espírito, um só o Baptismo”. Os carismas são acções do Espírito a partir das possibilidades e disponibilidades de uma pessoa, que a consagra para o serviço da comunidade e do Reino.

A Vida Religiosa não é outra categoria de discípulos, mas um carisma, ou uma diversidade de carismas no seio da Igreja. Em toda a história da Igreja, desde os primeiros mártires pela Fé, sempre surgiram homens e mulheres apaixonados de modo especial pelo Evangelho. Experimentaram o Amor-Graça de Deus-Pai e a urgência do seu Reino. Olharam para a vida de Jesus e quiseram segui-lo e imitá-lo de um modo especial. Fizeram uma experiência de radicalidade e liberdade guiados pelo Espírito.

S. Francisco de Assis, S. Afonso de Ligório, Madre Teresa de Calcutá… Homens e mulheres que descobriram as exigências do Evangelho e do Baptismo e procuraram assumi-las no máximo das suas possibilidades.

Procurando viver essas exigências do Evangelho no contexto de famílias na Igreja que os acolhem – como os Redentoristas – tornam-se sinal e presença do que significa ser discípulo de Jesus. Não deixam de ser leigos, isto é, pertencentes ao “laikos”, que significa “membros do Povo”, o Povo de Deus. E vivem essa vocação cristã de ser discípulos de Jesus, abraçando um serviço na Igreja, serviço que se torna Missão, Consagração de toda a vida, de todas as forças e tempo, para o Reino. Como Redentoristas abraçamos o anúncio explícito do Evangelho como caminho de viver como discípulos de Jesus e como entrega pelo Reino.

Na bíblia, todos os Profetas e Servos de Deus no seio do Seu Povo se “deixam Consagrar” pelo Espírito de Deus para a Missão que Ele próprio lhes confia. Ser Consagrado e ser Ungido, na linguagem bíblica, é a mesma coisa. “O Espírito do Senhor está sobre mim! Ele me Ungiu-Consagrou e me enviou para anunciar a Boa Notícia aos pobres, enviou-me a proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos cativos e para proclamar o Tempo da Graça de Deus!” (Lc 4, 18-19)

A Consagração de Jesus é o ponto de referência definitivo e absoluto da Vida Consagrada de cada Missionário Redentorista. Na medida em que nos sentimos chamados e nos disponibilizamos a ser Consagrados pelo Espírito Santo, dedicamo-nos também à causa do Reino e Consagramo-nos ao aprofundamento e anúncio do Evangelho de Jesus como Opção Fundamental da nossa Vida.
São as duas dimensões da Vida Consagrada: a Consagração como Dom e a Consagração como Tarefa.

Esta Consagração da Vida que se explicita e assume publicamente na celebração da Profissão Religiosa, é a opção por uma Vida de Aliança com Jesus Ressuscitado, no vínculo insubstituível do Espírito Santo e na confiança permanente no olhar de Deus-Pai. Ao nível da seriedade e das consequências, é o equivalente à Aliança do Matrimónio. É uma Aliança que se assume de maneira definitiva e à qual queremos permanecer fiéis “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, todos os dias da nossa Vida!”

Sim, a celebração da profissão Religiosa é o “Casamento” de um Missionário Redentorista. De “solteiro” temos o estado civil (e aquela parte de não termos sogra, ouvi dizer que também é fixe…) mas, na verdade, estamos chamados a viver uma Aliança de Amor permanente. Escolhemos viver este Amor de Aliança não com o jeito conjugal, mas apostólico.

É por esta Consagração da Vida ao anúncio do Evangelho de Jesus que nos tornamos Missionários Redentoristas “de corpo inteiro”. Normalmente, toda a gente dá mais importância à Ordenação, porque a figura do padre ainda está muito sacralizada na nossa cultura e mentalidade.

Mas a opção que define a Vida de um Redentorista é a Consagração ao anúncio do Evangelho que se exprime pela Profissão Religiosa. Ser Presbítero é um Ministério na Igreja, ou seja, uma forma concreta de viver essa Consagração, um modo de a exercer ao serviço de todos. Mas não é preciso ser Presbítero para ser Missionário Redentorista! Não somos clérigos, mas sim missionários.

Classicamente, o modo de explicitar a nossa Consagração ao anúncio do Evangelho, faz-se pela proclamação dos Conselhos Evangélicos, mais conhecidos por “Votos”: Pobreza, Obediência e Castidade. Brevemente, o que significam?

Ao optarmos pela Pobreza procuramos ser Pobres ao jeito de Jesus, ou seja, não se deixar engolir nunca pelos impulsos do egoísmo ou pelos desejos de possuir para dominar, sejam coisas, sejam pessoas. A pobreza ao jeito de Jesus tem a ver com simplicidade e disponibilidade para estar com todos, sem sobrancerias nem arrogâncias, dependendo da confiança na Graça de Deus e na Generosidade dos irmãos. A pobreza ao jeito de Jesus implica a consciência de que tudo o que temos tem que estar ao serviço da causa do Reino e do bem dos irmãos.

Ao optarmos pela Obediência procuramos ser Obedientes ao jeito de Jesus que dizia “O meu alimento é fazer a vontade do meu Pai!” Esta é a Obediência que vale a pena Professar (dar “bom testemunho” dela). Não prometemos obediência a pessoas investidas em cargos de poder, ainda que “poder religioso”, mas unicamente a Deus! Evidentemente, a Obediência à Vontade de Deus a nosso respeito implica uma atitude de vigilância permanente ao mistério das mediações e aos sinais dessa Vontade. Mas as mediações de Deus, normalmente, não andam associadas aos cargos de poder… Professamos uma Obediência Carismática, não eclesiástica.

Esta Obediência ao jeito de Jesus implica uma constante disponibilidade para sofrer e sangrar pelo Evangelho, se for preciso, para não o negar! A Obediência ao jeito de Jesus implica não desobedecer à Verdade do Evangelho, não renegar a defesa da Dignidade e Igualdade de todos os Seres Humanos e não ir contra a própria consciência.

Ao optarmos pela Castidade procuramos ser Castos ao jeito de Jesus. Por isso não constituímos família nos laços do sangue, mas optamos pela constituição da Família nos laços do Espírito. Não significa que sejam realidades contraditórias! Fazemo-lo como modo de alcançarmos a Disponibilidade radical para as tarefas do Reino e como Sinal de que a dinâmica eterna da Vida é a que acontece ao nível do Espírito. A Castidade ao jeito de Jesus é uma opção pela Fecundidade humana, que ultrapassa infinitamente a procriação.

A Castidade ao jeito de Jesus não gera “solteirões azedos e frustrados”, mas homens e mulheres amadurecidos na arte do Amor puro, gratuito e universal. Se não nos “fechamos” sobre ninguém não é para ficarmos “fechados” sobre nós próprios, mas sim para nos abrirmos a todos!

Fundamentalmente, estes votos são um caminho para viver o grande mandamento do Amor a Deus e ao Próximo, e tudo está em função deste. E estes votos não são feitos isoladamente numa capela, mas em Comunidade, em Igreja: ou seja, fazem-se para o serviço do Reino, e a comunidade cristã assume-se também como responsável para que este irmão caminhe de facto na entrega cada vez mais confiante e radical a Jesus Cristo e ao Amor do Abba.

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