"No Senhor está a Misericórdia e com ele Abundante Redenção" (Salmo 130, 7)



I.  Bebendo de nosso próprio poço


Um modo redentorista de entender a redenção começa com Santo Afonso. Não diferentemente de nossa própria época, a sociedade na qual Deus chamou Afonso de Ligório para proclamar a copiosa redenção apresentava enormes desafios. Ele vivia numa mudança de época, no ponto crítico de transição da sociedade medieval para o novo e audaz mundo do Iluminismo. Afonso tomou conhecimento dos pobres mais abandonados, que muitíssimas vezes eram esquecidos nas prioridades políticas, econômicas e culturais do seu tempo. Ao mesmo tempo, estava consciente de sua própria necessidade de conversão, se quisesse responder fielmente ao chamado de Deus.
Muitos de seus contemporâneos achavam-se afastados de Deus por causa das imagens inadequadas de Deus que lhes eram apresentadas e devido a um legalismo opressor na espiritualidade e na moral. Afonso combateu essas distorções do Evangelho com uma robusta prática pastoral, imbuída de um espírito clarividente de oração e contemplação. Sua pregação da redenção tocou os corações das pessoas que tinham chegado ao ponto de imaginar a Deus quando muito como remoto e indiferente, e no pior dos casos, como um tirano cruel.
Para Afonso a totalidade da vida cristã está centrada em Jesus e sua obra da redenção. Se queremos entender a intuição espiritual de nosso Fundador, então creio que o enfoque crucial não é na redenção como categoria abstrata, mas antes na pessoa do Redentor. Para Afonso, uma abordagem cristológica é indispensável, pois é o Redentor que revela o que é a redenção. O Redentor representa o verdadeiro caráter de Deus em toda a sua plenitude. Quem é Deus? O que Deus pensa dos seres humanos? Como Deus actua com os seres humanos? Afonso une sua voz a Jesus no Evangelho de João: “Pois de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que não morra quem nele crê, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não mandou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que por meio dele o mundo seja salvo” (Jo 3, 16-17).
O mistério da redenção não consiste em que nós nos tornemos dignos de Deus, mas antes em que, em Cristo Jesus, Deus nos faz dignos dele (Cl 1, 12-14; Ef 1, 3-14). Essa compreensão do desejo de Deus de transformar os seres humanos pelo amor é um elemento importante da visão de Afonso. A redenção torna-se a entrega livre de alguém na admiração e na gratidão pelo amor de Deus que é dado em Cristo Jesus por meio do Espírito.




A missão dos Redentoristas é levar as pessoas ao ponto crucial da vida cristã: o amor de Deus que é poderosamente revelado em Jesus Cristo. No centro da vida e do ministério da Congregação está o próprio mistério da redenção. Nós Redentoristas nascemos no coração de um ardoroso discípulo de Jesus, que ardia de zelo pela redenção de todos, com especial preferência pelos pobres, aqueles que tinham sido abandonados pelas práticas pastorais do seu tempo e pelos critérios da sua sociedade.
Por meio de Jesus o amor redentor do Pai atinge cada pessoa individualmente. Na perspectiva de Afonso, o amor de Deus não é anunciado abstratamente, mas por meio de histórias que ilustram o amor pessoal de Deus a cada pessoa e espera de cada qual uma resposta de conversão. A transformação do mundo se realiza por uma mudança pessoal do coração e pela obediência ao plano de Deus como foi revelado em Jesus. Como seres humanos, nós também temos uma necessidade básica de pertença, de sermos parte de um projeto mais amplo que nos conduza para além de nossos pequenos mundos pessoais. O amor redentor de Deus produz uma mudança em nossas relações, unindo-nos como comunidades na Igreja (Const. 12), a qual nos confia a missão de comunicar aos outros o amor que experimentamos no Redentor.



"No Senhor está a Misericórdia e com ele Abundante Redenção" (Salmo 130, 7)


II.  Penetrar o mistério hoje

Em algumas partes do mundo moderno, as pessoas, embora rejeitando a pertença a qualquer denominação, mesmo assim utilizam a linguagem religiosa para expressar uma busca de sentido na vida. Um sociólogo contemporâneo descreve a situação da Europa Ocidental como um “acreditar sem pertencer”. Pode-se perceber um anseio por algo mais na vida, uma busca de sabedoria, um interesse por novas formas de espiritualidade, uma paixão pela justiça, um apreço pela beleza e pelo valor essencial das relações interpessoais. Os confrades que estudam as tendências contemporâneas na literatura, no cinema, na arte e na música vislumbram nessas expressões culturais uma persistente busca de uma experiência de algo parecido com a redenção. Diversas expressões de religiosidade popular manifestam um anseio e uma busca semelhantes.
A fome de redenção se exprime também em mudos clamores e em anseios inconfessados. Podemos ouvi-los no desamparo e na frustração dos marginalizados, dos excluídos e dos assim chamados “novos pobres”. Uma percepção muito difusa da fragmentação da vida moderna, na qual os vários aspectos da vida parecem tão desconexos um do outro, também provocam um real mal-estar e uma tímida esperança de alívio. As pessoas angustiadas, solitárias e sofredoras de todos os tipos têm a vaga sensação de que “está faltando alguma coisa”; de que deve haver um modo melhor de se viver.
Não obstante seja verdade que muitas pessoas possam sentir fome de alguma espécie de redenção, essa necessidade não leva obrigatoriamente à busca de um Redentor. Com freqüência a resposta é procurada num tipo de auto-redenção, como se comprova pela variedade de programas de auto-ajuda que não estão ligados a um Redentor. Procura-se alívio para as ansiedades da vida moderna também mediante o recurso ao folclore, à magia ou à superstição.

Para darmos testemunho da abundante redenção dentro da inspiração carismática de Afonso de Ligório, não temos outra escolha senão fortalecer nossa vida com o Redentor. Já que o nosso Fundador uniu fundamentalmente nossa própria raison d’être com a missão de Jesus Cristo, a missão de Jesus é o modelo segundo o qual julgamos a nossa. Devemos estar convencidos de que crer em Jesus Cristo é esperar como ele esperou; que seguir a Jesus Cristo é continuar e prolongar na história a sua missão e amar como ele amou a ponto de dar nossas vidas; que segui-lo é permitir que sejamos cativados por ele e pela causa de sua vida. Afonso nos convida a redescobrir o Deus de Jesus Cristo, um Deus que está apaixonadamente enamorado da humanidade; um Deus que ouve os clamores dos pobres e que não fica indiferente perante a injustiça. Deus revelou-se a si mesmo como Boa Nova para os empobrecidos, dignando-se cumular da plenitude de Deus os seres humanos (Ef 3, 19) por causa do auto-esvaziamento solidário de Cristo (Fl 2, 5-11).
Assim, a proclamação da abundante redenção na tradição redentorista não é primeiramente nem principalmente a apresentação de fórmulas de fé ou de códigos de moral; é um convite a uma relação pessoal com um Deus apaixonado, um Deus de amor que em troca deve ser amado. Para Afonso é muito o que está em jogo. Uma de suas orações lamenta que o mundo está “cheio de pregadores que pregam a si mesmos [e não Jesus Cristo], ao passo que o inferno está cheio de almas.” Todavia, com uma insistência que questiona a nossa antiga reputação de pregadores do “fogo e enxofre”, Afonso sustenta que as conversões baseadas no medo do castigo divino não são duradouras. Por isso, durante as missões o principal dever de cada pregador é acender em seus ouvintes o fogo do amor divino. Embora não usemos mais a linguagem do enxofre para conquistar a atenção de nossos ouvintes, poderíamos porém nos perguntar se a nossa pregação tem se tornado insípida ou superficial quanto ao conteúdo. Usamos toda a criatividade e paixão à nossa disposição a fim de pregar Jesus Cristo Redentor numa linguagem que o povo, especialmente os pobres abandonados, é capaz de entender hoje?
Se a nossa missão perde seu centro em Jesus Cristo, sua luz se extinguirá e ela se tornará insípida; será como o sal que não serve para nada e tem de ser jogado fora.
Creio que reconhecer a missão da Congregação no mistério de Jesus Cristo traz importantes conseqüências para nós. Essa identificação deve provocar uma real admiração e respeito pela nossa vocação de colaboradores, companheiros e ministros de Jesus Cristo na grande obra da redenção” (Const. 2), porque participamos de um impulso que encontra sua origem no mistério da Santíssima Trindade. O planejamento pastoral, que deve dar atenção a metas, objetivos, planos de ação e avaliação, deve também ser fruto de oração contemplativa, de meditação e lectio divina, pois aí estamos lidando com coisas sagradas, e não simplesmente utilizando princípios de gerenciamento.
Ao procurarmos tornar mais evidente através do dom de nossas vidas o impulso divino para a humanidade inteira, jamais podemos cessar de buscar e questionar. Não há espaço para a auto-satisfação ou para a complacência burguesa em nossa vocação. Lembram-se da história que Afonso conta a respeito de um eremita que certo dia encontrou um príncipe na floresta? O príncipe lhe perguntou o que ele estava fazendo lá. O eremita respondeu com uma pergunta: “Senhor, o que estais fazendo neste lugar solitário?” Quando o príncipe lhe respondeu que estava caçando animais selvagens, o eremita replicou: “E eu estou caçando Deus,” e prosseguiu seu caminho. Se é verdade que muitos de nossos contemporâneos estão em busca do divino ou, pelo menos, de algum sentido último em suas vidas, imaginem o vigoroso testemunho de nosso trabalho pastoral e da nossa vida comunitária como lugares onde as pessoas estão “caçando” Deus! E acabam sendo redentoramente “caçadas” nos laços amorosos do nosso Deus que, em Jesus Cristo, é sempre para a Liberdade que nos atrái.
Creio que hoje a Congregação é chamada a exprimir a inspiração carismática de Afonso num dinâmico processo de solidariedade. Solidariedade é compaixão, pois ela nos compromete com a luta histórica dos pobres e fracos deste mundo e nos associa aos que estão abandonados e sem esperança. A solidariedade nos chama a dar “atenção especial aos pobres, aos mais fracos e oprimidos”, já que “a evangelização deles é sinal da obra messiânica” (Const. 4). Jesus não apenas escolheu identificar-se de modo especial com os marginalizados (Mt 25, 40) mas, em sua encarnação e no seu mistério pascal, Deus expressa solidariedade radical e irrevogável com os seres humanos.
Não podemos perder de vista o fato de que somos peregrinos que partilham uma promessa e um sonho. A solidariedade, que Deus estabeleceu no Redentor, já está agindo numa espécie de luta que culminará na consumação da Criação, e assim a nossa visão não é cerceada pelos limites do tempo presente, e nós rejeitamos o cinismo bem como a veleidade. Deus está fazendo novas todas as coisas e somos convocados para trabalharmos juntos enquanto mantemos nossos olhos fixos num novo céu e numa nova terra que é prometida através de Cristo.


No Santíssimo Redentor,
Joseph W. Tobin, C.Ss.R.

Bom Natal!



«Caros confrades, irmãs, associados e amigos:

O Advento, o grande tempo de vigília e esperança, está quase no fim. Estamos a aproximar-nos dos últimos dias de preparação para a Festa do Natal. Nas quatro últimas semanas, as leituras bíblicas que proclamamos na liturgia falaram-nos da visão de Deus para um mundo renovado. O deserto floresce, os pobres são alimentados no corpo e no espírito, os cegos vêem e os coxos andam. Ouvimos falar de luz brilhando na escuridão, de espadas transformadas em arados, e de lanças que se tornam ferramentas para a colheita.

Mais do que isso, Deus sonha com um mundo em que ninguém se prepara para a guerra, mas todos estão desarmados. Deus anseia por um mundo em que as pessoas se sentam à mesa juntas e todaa as lágrimas são enxugadas. Deus promete um mundo no qual reina a justiça e o amor une as pessoas de todas as raças, línguas, crenças e estilos de vida. O leão e o cordeiro se deitarão juntos, e uma criança poderá conduzi-los. Deus fala ao mundo com imagens e linguagem de esperança que movem o coração humano.

O Natal celebra a Encarnação, o Emanuel, "Deus-conosco". O Verbo de Deus se faz carne, torna-se humano. Como o Papa Bento XVI nos recorda na Exortação Verbum Domini: "O Verbo abreviou-se" ... A Palavra Eterna fez-Se pequena – tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré" (n. 12). Estas palavras do Santo Padre fazem eco às meditações de Santo Afonso sobre o mistério que celebramos no Natal.

Quando contemplamos a criança de Belém, somos convidados a ver o mundo como Deus vê o mundo, e esperar que o sonho, o anseio e a promessa de Deus serão cumpridos. O nascimento dessa criança, como o nascimento de cada criança, é um sinal poderoso de que Deus continua a esperar, a sonhar,e a manter sua promessa de um mundo renovado.

Quando celebramos o nascimento do Menino de Belém, começamos a reconhecer que em Jesus, Deus experimenta o mundo como nós. Jesus experimentou a fome e o frio, a alegria e a família, a dor, a tristeza e o fracasso. Jesus é movido de compaixão para com os abandonados e os pobres porque ele entrou na experiência humana deles na sua própria carne. A compaixão requer proximidade. Como Emanuel – Deus conosco – Jesus é realmente a compaixão de Deus feita carne.

A Encarnação que celebramos no Natal não é apenas que o Verbo se fez carne no seio de Maria e entrou na história humana na pessoa de Jesus Cristo. Comemoramos o facto de que essa mesma Palavra de Deus torna-se carne hoje – em nós e na comunidade. O Verbo Encarnado continua a agir na história humana aqui e agora. Ao tornar-se nosso irmão, Jesus nos une mais intimamente à família de Deus – e assim uns aos outros. Enquanto a Palavra continua a fazer-se carne em nós, reconhecemo-nos mutuamente como irmãos e irmãs. Este reconhecimento muda tudo!

Para Santo Afonso, foi esse reconhecimento de que os abandonados e os pobres são seus irmãos e irmãs que o levou à sua conversão dramática. Vendo os pastores e cabreiros nas colinas acima de Scala, ele foi movido de compaixão. Afonso respondeu, saiu de Nápoles, e deu sua vida para levar a copiosa redenção aos pobres abandonados que ele abraçou como irmãs e irmãos.

O mistério do Natal nos ensina que a compaixão não é piedade, que olha para os necessitados a partir de uma posição de força e superioridade. Pelo contrário, a compaixão é o reconhecimento da nossa vulnerabilidade mútua que responde através do amor em situações concretas. Deus responde através da Encarnação: Jesus abraça nossa humanidade e nossa mútua vulnerabilidade e leva a Boa Nova aos pobres.

Acredito que é por isso que a devoção ao Menino Jesus era tão importante para Afonso. No Menino de Belém, ele reconheceu a vulnerabilidade de Deus que compartilha da nossa humanidade, a fim de nos remir. Seguindo a Jesus e abraçando a nossa vulnerabilidade compartilhada com ele, também nós somos chamados "a evangelizar e a ser evangelizados pelos pobres". Como a Constituição 19 nos lembra, "aquele que segue a Cristo, homem perfeito, torna-se ele mesmo mais homem". Neste espírito, nós vamos buscar e encontrar novas maneiras de levar a Boa Nova aos abandonados e aos pobres.

Em todo Natal, Deus nos convida a sonhar, a esperar e a ver o mundo através dos olhos do Redentor. Que Deus renove, por meio desta celebração do Natal, a nossa esperança e os nossos corações e nos encha de alegria, para que possamos pregar o Evangelho de modo sempre novo!

Desejo-lhes um Alegre Natal e todas as bênçãos no Ano Novo,

Michael Brehl,
Superior Geral C.Ss.R

IV Encontro Formação Europa-Sul

Viva! Como nos anos anteriores, aqui vem a partilha sobre o Encontro dos Redentoristas em formação na Europa-Sul, que desta vez decorreu aqui em Gaia, na nossa (grande) casa! Este ano a partilha vem de Espanha, de novo do nosso companheiro Victor, que já deixou por aqui um testemunho: Experiencia Missionera. Um grande abraço!

«Del 6 al 8 de abril ha tenido lugar en Vila Nova de Gaia el IV encuentro entre formandos y formadores del sur de Europa. Ésta ha sido una nueva oportunidad para compartir vida, reflexión y misión entre los que estamos en formación y los formadores de nuestras provincias; este año en torno a nuestras Constituciones redentoristas como tema principal.

Nos reunimos en Gaia un total de 27 personas: 3 portugueses, 2 de Estrasburgo, 12 venidos de Italia y 9 de la Provincia de Madrid. El número veintisiete lo ocupa el invitado especial a nuestro encuentro: P. Joseph Tobin, General emérito, que nos obsequió con su presencia y con luminosas reflexiones desde nuestras Constituciones especialmente dirigidas a los jóvenes (y futuros) redentoristas del sur de Europa que formamos ya parte de la nueva realidad de las Conferencias.

El considerar las Constituciones nos ayudaba a hacer un recorrido con P. Tobin por cuestiones fundamentales de nuestra vida y carisma: la misión; la comunidad apostólica; nuestra consagración misionera; la formación en la CSsR y, en último lugar, nos llevaba a abordar la nueva realidad de las Conferencias -y el proyecto de formación que depende de éstas- y que supone de nuestra parte una cada vez mayor apertura a Europa y la convicción profunda y consciente de que profesamos para la Congregación y no únicamente para las provincias.

Naturalmente se indicaba que éste será un proceso a realizar progresivamente y en la medida que las distintas realidades provinciales lo permiten. Sin embargo, aún siendo proyecto común -que a todos afecta- y que de todos exige una continua y sincera conversión (c. 20), no deja de ser cierto que esto implica de manera especial a los redentoristas con posibilidad de movilidad y de aprender idiomas; ya que estos se tornan requisitos indispensables para nuestra misión a nivel europeo.

A lo largo de estos días, P. Tobin nos advertía de que la misión puede llegar a convertirse en un slogan si no partimos del sentido hondo que ésta cobra en nuestras Constituciones, que nos definen por ello como “cooperadores, socios y servidores de Cristo en la gran obra de la redención” (c. 2). De este modo nos invitaba a entrar en los nuevos “areópagos de Europa”: los medios de comunicación social (especialmente internet), el mundo juvenil, la teología moral, el ecumenismo y el diálogo interreligioso e incluso un diálogo sin complejos con nuestra sociedad secularizada.

En sus diversas reflexiones, P. Tobin, nos invitaba a ir más allá de nuestros deseos y de nuestra voluntad y a confrontarnos con el abandono de aquellos que nos rodean sabiendo darle una respuesta. “Buscar únicamente mantener aquello que tenemos sería una desilusión para todos” nos decía, y con ello señalaba cómo las decisiones que se tomen han de surgir de las opciones pastorales que se hagan. Igualmente se nos sugería la necesidad ser “testigos creíbles” y por ello hacer una inculturación reflexiva, como misioneros que sean capaces de contrastarse con el evangelio.

Es de subrayar y agradecer la presencia y cercanía tanto del Padre General emérito, J. Tobin, como de los provinciales asistentes, que en todo momento se mostraron disponibles y cercanos para atender cualquier duda o cuestión surgida acerca de la formación que se forjará en nuestra Conferencia europea. Del mismo modo agradecemos a nuestros cohermanos portugueses su acogida y generosidad, que nos permitió, además del encuentro formativo y fraterno, visitar la ciudad de Oporto y Gaia e incluso el Santuario de Fátima, el día antes de regresar.»

Víctor Chacón Huertas, CSsR


Há 277 anos...

Eram meia dúzia, neste dia, há 277 anos... 277 anos nos separam daquela manhã do dia 9 de Novembro de 1732 em que, numa aldeia pequenina no cimo de uma montanha virada para o mar - Scala - houve quem se comprometesse a Anunciar o Evangelho de Jesus às gentes mais abandonadas daquelas bandas, longe dos salões dos senhores e barões de Nápoles, longe dos incensos e solenidades das suas basílicas e igrejas "de primeira"...

Não foi um início assim tão heróico nem brilhante... passados poucos meses já estavam dispersos! Não fizeram nada de grandioso ou que enchesse o olho do mundo da altura. Mas, verdade verdadinha, o que é "grandioso"?

Uma coisa eu sei: sem eles, eu hoje não seria quem sou. E dever a própria vida a alguém, para mim, é grandioso! Sem aquela manhã de 9 de Novembro, sem aquela decisão, sem aquele compromisso da meia dúzia não me entendo a mim mesmo como gente, hoje. Não eram nada de especial... cada um com as suas manias, cada um com as suas coisas, cada um com a sua verdade e também as suas sombras... cada um assim, com os cada uns de cada qual...

Mas só Deus sabe o que faz com o barro a que deita as mãos... Em 277 anos pergunto-me pelo número de pessoas cuja vida ficou profundamente transformada por causa daquela manhã... Quantos milhares de missionários redentoristas espalhados pelo mundo fora, durante estes quase 300 anos... Quantos familiares seus... Quantos milhões de pessoas os conheceram, os amaram, escutaram da sua boca o Evangelho da Vida e reconheceram nas suas atitudes a Boa Notícia da Salvação...

Será possível "medir" as consequências da fidelidade? Da fidelidade aos momentos mais simples, mais entusiasmados, ainda que não grandiosos aos olhos do mundo, ainda que não pomposos? Será que conseguiremos alguma vez "medir" as consequências da nossa fidelidade aos momentos mais pequenos? Como aquele, naquela manhã de outuno em Scala?

Ou será que essas "contas" têm mesmo que ficar para Deus e a nós fica-nos o desafio da FIDELIDADE?

Ano após ano, neste dia, não deixo de me espantar e louvar o Bom Deus pelas consequências admiráveis daquela reunião de meia dúzia de amigos, no dia 9 de Novembro de 1732, em Scala... e, já agora, de sentir-me vaidoso por pertencer a esta história, a esta aventura do Espírito no meio da sua Igreja que me faz ser Missionário Redentorista.

EXPERIENCIA MISIONERA

O texto seguinte é uma partilha de Victor, redentorista espanhol, da missão que viveu durante 2 meses na Nicarágua; de certeza que o espanhol não será dificuldade para compreender o texto e a experiencia que está por debaixo. A ti Victor, um grande abraço e boa missão!



Me llamo Víctor Chacón Huertas, soy un misionero redentorista español. Tengo 23 años y este verano he podido vivir mi primera experiencia misionera en tierras de Centroamérica. Nunca había cruzado el océano hasta ahora. Nunca había hecho un viaje tan largo que tuviera un cambio horario tan grande (8 horas de diferencia). Tampoco nunca me había encontrado directamente en una cultura tan distinta a la mía. Y, sin embargo, todas estas cosas que pueden parecer un fastidio o algo incómodo se han convertido en una fortuna, en una gracia que siento como un especial regalo de Dios a mis dos años de profesión misionera.

Inicialmente iba destinado a Trojes (Honduras) a una pequeña parroquia rural que atiende a numerosos poblados muy dispersos por las montañas hondureñas. Pero, pocos días antes de partir (mi avión salía el 7 de julio) estalló el conflicto político en Honduras con el golpe de Estado y la situación se puso bastante fea. El toque de queda y la fuerte presencia militar no aseguraban la estabilidad en el país. Cambiaron mi destino a Managua (Nicaragua), y no sin pena accedí en el cambio. Nicaragua era un terreno novedoso y no explorado para este tipo de experiencias en que se envían a jóvenes voluntarios a colaborar en el terreno y a mí me pidieron ver qué tal era, para ver la posibilidad de enviar luego más gente allá.

En Managua los misioneros redentoristas tenemos dos comunidades que atienden dos parroquias de la capital nicaragüense: El redentor (parroquia más céntrica) y la Santísima Trinidad (a las afueras de la ciudad). Yo estaba destinado a esta última, ese iba a ser mi primer destino misionero en América y allí me esperaba una comunidad de tres personas, dos sacerdotes y un estudiante teólogo en año de práctica pastoral.
La Santísima Trinidad es una parroquia grande que atiende a seis barrios de las afueras de Managua (Waspán, Xolotlán, Mombacho, Oswaldo Manzanares, Carlos Marx y Villa Reconciliación). Si es verdad que en todos ellos se sentía la pobreza y la marginalidad, de manera especial en los dos últimos se hacía mucho más visible esta cruda realidad. Lugares en los que las calles no estaban asfaltadas, cuando llovía se inundaban y se formaba lodo que también entraba en las casas; no había agua potable más que algunas horas al día. Tampoco había alcantarillado ni lugar donde acumular la basura, sino que esta se repartía por todas las calles y casas. Era un paisaje nuevo para mí. No estaba acostumbrado a ver gente en esas circunstancias, ni a oír historias familiares tan complicadas y rotas, a veces por el alcohol, a veces por las drogas y casi siempre por la violencia. Abandonos de hijos nacidos, cuando no ha habido abortos pactados de jóvenes adolescentes que deberían estar en la escuela más que criando hijos.

Ante estas y otras realidades que me encontré, yo me sentí invitado como misionero, a decir una palabra. No mi palabra. Sino la Palabra de Dios. Para poder proclamar esta Palabra de manera creíble, intenté no dedicarme a una única cosa sino trabajar con mis hermanos las distintas dimensiones de la fe:

- Palabra celebrada. Ante todo, yo iba a Nicaragua como misionero y anunciador del evangelio, como redentorista, y esto hacía que la tarea pastoral y evangelizadora ocupara un lugar central de mi atención y de mis esfuerzos allí. Gran parte del tiempo lo pasé celebrando la fe con las pequeñas comunidades cristianas de los barrios que me rodeaban en: eucaristías y celebraciones de la Palabra, asambleas familiares en las casas, visitas de enfermos, predicaciones… oraciones de otro tipo. Estas ocasiones eran momentos privilegiados para compartir la fe con otros creyentes y descubrir la peculiaridad de su cultura y la riqueza de su manera de entender y celebrar a Cristo. ¡Mucho más viva y con más alegría de lo que en Europa estamos acostumbrados!

- Palabra formativa. Esa misma palabra compartida en oraciones y eucaristías empujaba a profundizar en nuestra fe y hacerlo de manera formativa, que pudiera aprovechar a todos y ampliar la riqueza de miras que podemos tener. En este ámbito pudimos hacer la visita a las asambleas domésticas que hacían adultos y niños en sus hogares, y también encuentros juveniles de formación y consolidación de una pastoral juvenil. Así como también la catequesis de niños que yo acompañé en menor medida.

- Palabra caritativa. Llega un momento en el que la fe no se me podía quedar en oración o formación; mi visita no podían ser sólo palabras que arrastrara el viento. Por ello, otra dimensión de mi presencia en Centroamérica era la parte social y humana. También fui enviado en este viaje no sólo como misionero, sino además como miembro de la ONG redentorista española “Asociación para la Solidaridad”. Una ONG para el desarrollo que busca ayudar a estas situaciones de especial necesidad, colaborando con el apoyo a las misiones redentoristas. La otra parte de mi trabajo era reunirme con la gente de los barrios y escucharlos, saber cuáles eran sus problemas, sus necesidades, sus inquietudes, y ayudarles a formarse y a redactar un proyecto de desarrollo para sus realidades empobrecidas que responda al bien de la mayoría.


Esta última parte de mi tarea fue especialmente enriquecedora para mí. Suponía iniciarles en una forma de trabajar nueva para ellos, cooperativa, de asociación, en la que nadie está por encima de nadie ni tampoco nadie podía adueñarse de un proyecto que era siempre de la comunidad, pertenece a todos (Por ello leíamos Juan 13). Les intenté enseñar a trabajar juntos por algo que beneficiaba a más personas que a ellos solos. Aunque conseguimos juntos formular varios proyectos que ayudaran a responder a sus necesidades más inmediatas, yo no siento que haya hecho mucho por ellos. Más bien creo no haber aportado nada que no estuvieran haciendo ya los otros tres redentoristas. Mi visita sólo sirvió para ensanchar mi mente y mi corazón escuchando a gente que sin tener mucho es capaz de dar lo mejor que posee y agradecer infinitamente el más mínimo detalle.

Así son los nicaragüenses, cálidos, como su país; generosos y acogedores. Me hicieron sentir en casa, en familia, y me enseñaron a ser un poco más y mejor misionero. Por eso, y aunque pueda parecer tópico, siento que yo he de agradecerles mucho más de lo que ellos me agradecieron a mí, verdaderamente recibí mucho más de lo que di. Gracias. Creo que ahora puedo seguir estudiando teología mucho mejor. Con los pies en la tierra. Y con la cabeza abierta a más realidades que las de Europa, y teniendo presentes en la memoria muchas nuevas personas y realidades que me ayudan a crecer en mi fe y en mi amor a Dios y a los hombres. No lo olvidaré fácilmente.



Víctor Chacón Huertas, CSsR

(Comunidade dos redentoristas de Managua; Victor é o último do lado direito)

Gennaro Sarnelli cssr (1702-1744)

Celebramos hoje, 30 de Junho, o aniversário da morte de Gennaro Sarnelli, redentorista beatificado em 1996. Grande companheiro de Afonso de Ligório, nos inícios da Congregação, nasceu em 1702 filho de um grande proprietário em Ciorani. Seguindo a carreira de advogado, acabou, como Afonso, por dedicar a sua vida ao Evangelho sendo ordenado presbítero em 1731. Destacou-se sobretudo pelo grande trabalho de evangelização que desenvolveu em Nápoles, nas zonas periféricas e mais empobrecidas. Escreveu numerosos livros sobretudo destinados à catequisação fundamental e básica das pessoas e, sendo filho de uma família abastada, aplicou muito dos seus bens na assistência e recuperação de mulheres que viviam na prostituição, e em evitar que jovens de zonas desfavorecidas seguissem o mesmo caminho. Tornando-se redentorista em 1736, continuou como responsável das missões e evangelização da periferia de Nápoles até morrer, por esgotamento e doença em 1744, com 42 anos.

É hoje reconhecida grande amizade que Afonso teve com Sarnelli. Muitas das obras que Afonso escreveu mais tarde partiram de esquemas e livros incompletos que Sarnelli deixou. É como que um dos Pais da fundação da CSsR.

Partilho um texto dele, breve, que considero interessante. Trata-se de um dos muitos textos que usava na catequese e evangelização fundamental de adultos em Nápoles. Naturalmente que temos de aceitar a linguagem própria do século XVIII. Um grande abraço!


«Para adquirir o amor cristão, não se deve olhar o próximo com os olhos humanos, mas com os olhos da fé. Quem olha o próximo com os olhos humanos, o reconhece muitas vezes como indigno, abominável, soberbo, fastidioso, inoportuno, inquieto, inimigo, perseguidor, malfeitor. E aí o coração humano inclina-se a os olhos humanos a desdenhá-lo, a língua humana a dizer mal, a mente humana a desprezá-lo e por vezes as mãos humanas correm para ofendê-lo.

Mas quando a alma se na fé e com os olhos da fé vê o próximo, parece-lhe outra coisa muito diferente de antes. Descobre-o digno de ser estimado, auxiliado, amado como a si próprio, seja ele uma pessoa comum, em qualquer estado e condição que se encontre, e quaisquer que sejam os seus tratos, costumes e comportamentos, ainda que os considere amargos e desagradáveis.

A razão humana pinta o próximo tal como ele é na sua natureza. A razão da fé propõe-no como ele é em Deus. Por isso, se o homem se sente movido a desprezar um outro homem defeituoso, o cristão, e ainda mais a alma espiritual, não deve desprezá-lo, mas estimá-lo e amá-lo com um coração fiel como a própria vida.

Eis o que é o nosso próximo visto à luz da fé e revisto com olhos fiéis. Qualquer próximo se encontra no seio de Deus. É criatura de Deus, formado à imagem da Santíssima Trindade. Como crente é membro do corpo da Igreja, de quem a cabeça é Cristo; é filho adoptivo de Deus, readquirido a aspergido com o sangue de Jesus Cristo; é templo do Espírito Santo, herdeiro do Paraíso, companheiro de anjos e de santos, nosso irmão e comensal nesta Igreja militante na terra, e depois na triunfante no céu.

Assim, pertencendo o homem por tantos títulos e cuidados a Deus e a nós, não pode Deus não ficar enormemente honrado pela caridade que nós usamos com o próximo. Pelo qual, não pode não ficar Deus enormemente ofendido pela injúria que façamos ao próximo. Ele recorda-nos que quem ofende as suas criaturas racionais, ofende a pupila dos seus olhos. A fé ensina esta grande verdade. E alma deve viver e esperar na fé, se quer encontrar-se fiel diante de Deus.

Vê, ó alma, quanto Deus é zeloso da caridade que deves usar para com o próximo. E com quanta razão pretende de ti um perfeitíssimo exercício desta santa caridade e como te deves desempenhar com toda a minúcia e perfeição, se queres tornar-te grata àquela imensa e eterna caridade divina, a qual não pode não derramar a plenitude do seu amor sobre aquelas almas que espalham toda a sua caridade para com o próximo, pelo amor e pela honra do Deus que o pede.»