Salmo 130

Na fundação da Congregação, Afonso escolheu, para o seu escudo, uma frase do Salmo 130 que se tornaria no lema dos redentoristas: Com Ele é abundante a Redenção. Eis o salmo:

Do fundo do abismo clamo a ti, Senhor!
Senhor, ouve a minha prece!
Estejam teus ouvidos atentos
à voz da minha súplica!

Se tiveres em conta os nossos pecados,
Senhor, quem poderá resistir?
Mas em ti encontramos o perdão;
por isso te fazes respeitar.

Eu espero no Senhor! Sim, espero!
A minha alma confia na sua palavra.
A minha alma volta-se para o Senhor,
mais do que a sentinela para a aurora.

Mais do que a sentinela espera pela aurora,
Israel espera pelo Senhor;
porque nele há misericórdia
e com Ele é abundante a redenção.
Ele há-de livrar Israel
de todos os seus pecados.

Já vimos que a experiencia fundamental que Israel faz da Redenção parte da Libertação do Egipto e da Aliança com Javé. Deus toma partido por um povo de escravos, elege-o e liberta-o por pura Graça. Israel descobre que, sem a intervenção livre e gratuita de Deus, nunca faria a experiencia de ser um Povo como tal, com uma terra, uma lei e uma liberdade. Do mesmo modo, perante a sua infidelidade, Israel experimenta que é apenas graças ao Perdão e à Fidelidade de Deus que a Aliança selada no Sinai continua ao longo da sua história; Deus continua a renovar a sua Aliança com Israel apesar da infidelidade desta, apenas pela sua Graça e Perdão.

O salmista parte desta experiencia do seu povo e vive-a de modo pessoal; também ele, como todo o povo, faz a experiencia do pecado que, mais que uma infracção juridica ou moral, é uma experiencia de sofrimento, de pobreza e de morte. Sabe que não pode corresponder, por si, à Aliança selada com Deus no seu Amor: se fosse por nós, Deus nunca poderia arriscar-se num projecto destes: Se tiveres em conta os nossos pecados, Senhor, quem poderá resistir?

Assim, o grande pilar, a base, a Rocha Firme desta Aliança é Deus, na sua Fidelidade e Justiça – apesar de tudo, Deus não desiste, pelo contrário, renova, insiste, reforça a sua Aliança, com o salmista, com Israel, com toda a Humanidade. É esta, de facto, a grande proclamação dos Profetas. Diante de um Amor assim, Fiél e Permanente, só pode surgir a Fé: Mas em ti encontramos o perdão; por isso te fazes respeitar.

A atitude do crente torna-se então a abertura a este Amor, único capaz de o transformar no seu Perdão e de o fazer corresponder à Aliança: apenas este Amor, assim, revelado, pode libertar o crente, e todo o povo, da sua experiencia de pecado e de morte. Apenas este Amor, cujo Rosto máximo encontramos em Jesus e cujo Poder pleno encontramos na sua Ressurreição, pode recriar o pecador e levá-lo de novo à experiencia original: a experiencia da libertação, da Graça que forma Aliança. Vemos que é a atitude contrária à de tantas lógicas que encontramos: perante a experiencia do pecado, mais que separarmo-nos, só nos podemos aproximar e abrir a este Amor capaz de nos libertar: A minha alma confia na sua palavra, a minha alma volta-se para o Senhor. Com Ele é abundante a redenção. Ele há-de livrar Israel de todos os seus pecados.

Jesus Ressuscitado, Redentor e Primogénito da Nova Humanidade:
Em ti se inaugurou a plenitude dos tempos,
A Comunhão plena, eterna e definitiva com o Pai.

Tu és o Consagrado pelo Espírito,
O Espírito Santo, Espírito de Santidade, Justiça e Graça.
Por isso viveste e foste mediação de libertação e alegria
Com todos os que se encontravam contigo...
Mas as forças do mal, que se estruturam e instalam
Condenaram-te a uma morte profética...

Mas a tua fidelidade, Mestre, e a fidelidade do Pai
Foram infinitamente mais fortes que todo o pecado!
E na tua Ressurreição, a tua Missão e o teu Espírito
Tornaram-se universais, para todos os tempos e lugares!

Mestre, ajuda-nos a crescer e a nascer como filhos do Abbà,
Como pessoas livres e felizes, no Amor silencioso do Espírito.
E ajuda-nos a sermos mediação da tua Boa-Nova de Paz e Alegria
A todos aqueles com quem nos encontrarmos.

Porque no meio de todos os medos, em ti encontramos
A Abundante Redenção.

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