Bom Natal!



«Caros confrades, irmãs, associados e amigos:

O Advento, o grande tempo de vigília e esperança, está quase no fim. Estamos a aproximar-nos dos últimos dias de preparação para a Festa do Natal. Nas quatro últimas semanas, as leituras bíblicas que proclamamos na liturgia falaram-nos da visão de Deus para um mundo renovado. O deserto floresce, os pobres são alimentados no corpo e no espírito, os cegos vêem e os coxos andam. Ouvimos falar de luz brilhando na escuridão, de espadas transformadas em arados, e de lanças que se tornam ferramentas para a colheita.

Mais do que isso, Deus sonha com um mundo em que ninguém se prepara para a guerra, mas todos estão desarmados. Deus anseia por um mundo em que as pessoas se sentam à mesa juntas e todaa as lágrimas são enxugadas. Deus promete um mundo no qual reina a justiça e o amor une as pessoas de todas as raças, línguas, crenças e estilos de vida. O leão e o cordeiro se deitarão juntos, e uma criança poderá conduzi-los. Deus fala ao mundo com imagens e linguagem de esperança que movem o coração humano.

O Natal celebra a Encarnação, o Emanuel, "Deus-conosco". O Verbo de Deus se faz carne, torna-se humano. Como o Papa Bento XVI nos recorda na Exortação Verbum Domini: "O Verbo abreviou-se" ... A Palavra Eterna fez-Se pequena – tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré" (n. 12). Estas palavras do Santo Padre fazem eco às meditações de Santo Afonso sobre o mistério que celebramos no Natal.

Quando contemplamos a criança de Belém, somos convidados a ver o mundo como Deus vê o mundo, e esperar que o sonho, o anseio e a promessa de Deus serão cumpridos. O nascimento dessa criança, como o nascimento de cada criança, é um sinal poderoso de que Deus continua a esperar, a sonhar,e a manter sua promessa de um mundo renovado.

Quando celebramos o nascimento do Menino de Belém, começamos a reconhecer que em Jesus, Deus experimenta o mundo como nós. Jesus experimentou a fome e o frio, a alegria e a família, a dor, a tristeza e o fracasso. Jesus é movido de compaixão para com os abandonados e os pobres porque ele entrou na experiência humana deles na sua própria carne. A compaixão requer proximidade. Como Emanuel – Deus conosco – Jesus é realmente a compaixão de Deus feita carne.

A Encarnação que celebramos no Natal não é apenas que o Verbo se fez carne no seio de Maria e entrou na história humana na pessoa de Jesus Cristo. Comemoramos o facto de que essa mesma Palavra de Deus torna-se carne hoje – em nós e na comunidade. O Verbo Encarnado continua a agir na história humana aqui e agora. Ao tornar-se nosso irmão, Jesus nos une mais intimamente à família de Deus – e assim uns aos outros. Enquanto a Palavra continua a fazer-se carne em nós, reconhecemo-nos mutuamente como irmãos e irmãs. Este reconhecimento muda tudo!

Para Santo Afonso, foi esse reconhecimento de que os abandonados e os pobres são seus irmãos e irmãs que o levou à sua conversão dramática. Vendo os pastores e cabreiros nas colinas acima de Scala, ele foi movido de compaixão. Afonso respondeu, saiu de Nápoles, e deu sua vida para levar a copiosa redenção aos pobres abandonados que ele abraçou como irmãs e irmãos.

O mistério do Natal nos ensina que a compaixão não é piedade, que olha para os necessitados a partir de uma posição de força e superioridade. Pelo contrário, a compaixão é o reconhecimento da nossa vulnerabilidade mútua que responde através do amor em situações concretas. Deus responde através da Encarnação: Jesus abraça nossa humanidade e nossa mútua vulnerabilidade e leva a Boa Nova aos pobres.

Acredito que é por isso que a devoção ao Menino Jesus era tão importante para Afonso. No Menino de Belém, ele reconheceu a vulnerabilidade de Deus que compartilha da nossa humanidade, a fim de nos remir. Seguindo a Jesus e abraçando a nossa vulnerabilidade compartilhada com ele, também nós somos chamados "a evangelizar e a ser evangelizados pelos pobres". Como a Constituição 19 nos lembra, "aquele que segue a Cristo, homem perfeito, torna-se ele mesmo mais homem". Neste espírito, nós vamos buscar e encontrar novas maneiras de levar a Boa Nova aos abandonados e aos pobres.

Em todo Natal, Deus nos convida a sonhar, a esperar e a ver o mundo através dos olhos do Redentor. Que Deus renove, por meio desta celebração do Natal, a nossa esperança e os nossos corações e nos encha de alegria, para que possamos pregar o Evangelho de modo sempre novo!

Desejo-lhes um Alegre Natal e todas as bênçãos no Ano Novo,

Michael Brehl,
Superior Geral C.Ss.R

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