Bispo de S. Agueda

Em Março de 1762, com 66 anos, numa altura em que Afonso começa já a afastar-se do intenso trabalho missionário por causa da sua saúde, o papa Clemente XIII nomeia-o bispo da diocese de S.ª Águeda dos Godos. A princípio recusa. Mas logo é, literalmente, obrigado a aceitar, sob voto de obediência.

S. Águeda é uma diocese no sul de Itália com 40 mil habitantes e, claro, um grande número de padres e religiosos. Isso não impedia que houvesse zonas abandonadas. Afonso é recebido como um santo, e têm que lhe colocar o chapéu episcopal do predecessor, entretanto falecido, por não ter dinheiro para comprar o seu. Mas manda para trás presentes dos nobres da região.

Naturalmente, não deixa de ser o religioso e o missionário. Continua com o mesmo ritmo pessoal de oração e trabalho, sem perder um minuto. Como bispo, passa o dia em atendimento, seja a nobres ou a mendigos. A porta de sua casa está sempre aberta, sem porteiro ou secretário algum. E, claro, inicia a “missão permanente” na catedral, com pregações, meditação e oração sob a sua liderança directa.

Afonso é exigente com os seus próximos. Após várias advertências, usa das indicações dadas pelo Concílio de Trento, dois séculos antes, e manda prender três clérigos da diocese, por manterem uma vida irregular face à missão que lhes foi atribuída. Intimou religiosos pouco fiéis a que abandonassem a diocese. Tal como Jesus, no Templo, também é preciso por vezes usar de chicote. E continua a missão permanente em S. Águeda.

A formação dos padres era uma questão delicada na altura. Poucos eram os padres com cursos de teologia, e só nas grandes cidades. Os seminários foram implantados apenas com o Concílio de Trento. Será uma preocupação fundamental de Afonso como bispo: proporcionar aos seus padres uma formação contínua, que os leve a serem também verdadeiros evangelizadores nas suas paróquias (na altura, só os missionários e pregadores é que faziam homilias e catequeses). Para isso chamará as congregações missionárias e ele próprio escreverá diversos manuais.

Outra das primeiras medidas seria a reforma do Seminário. Melhor selecção de candidatos, obras de melhoramentos, avaliação mais exigente. Procurou criar um ambiente familiar que proporcionasse aos jovens um bom ambiente de estudo e oração. E sobretudo, muita exigência de santidade aos formadores! Procurou – caso único na época – que jovens das aldeias se candidatassem, sem encargos para as suas famílias pobres, para mais tarde dispor de padres que aceitassem rumar a estes locais. Na altura, era normal os padres saírem de famílias com posses, e regressavam a elas depois dos estudos.

Abrirá os portões do palácio episcopal para as crianças que passam os dias abandonadas, enquanto os pais trabalham. Providenciará alimentos para os muitos miseráveis, principalmente no ano de 1763 em que houve grande fome. Chama missionários, entre os quais os seus redentoristas, para levarem a cabo inúmeras missões por toda a diocese. Ele próprio, apesar da idade, visitará toda a sua diocese de dois em dois anos, sempre com o seu jeito que já conhecemos.

É como bispo que mais tarde virá ao de cima a sua veia catequista. Escreve pequenos textos e tratados para os seus padres e fiéis. Continua o seu trabalho de teologia moral. E visita as crianças às suas casas para as crismar, muitas vezes nos bairros mais pobres da diocese.

3 comentários:

Sol da manhã disse...

"...(na altura, só os missionários e pregadores é que faziam homilias e catequeses)."

Rui Pedro, li esta frase no outro dia e não a entendi. Hoje, voltei a lê-la e não a entendi de novo. A minha lerdice em acção...

Então quem é que fazia as homilias? Não era o padre que celebrava? Ou havia "padres especializados" para as homilias?

Eheheheheh, desculpa lá a pergunta, mas eu não entendi mesmo.

SHALOM

Rui Vasconcelos disse...

Não tens nada que pedir desculpa, Maria! De facto, para nós hoje é normal que qualquer eucaristia de Domingo tenha homilia, por muito seca que seja.
Mas, a obrigação dos padres fazerem homilia só surgiu com o Concilio de Trento, no séc. XVI e, no tempo de Afonso, essa medida ainda não tinha sido universalmente aplicada.
Isto porque eram raros os párocos que tinham formação teológico: no tempo de Afonso, a maioria ainda era ordenado após um exame de... latim. Os seminários também eram uma novidade de Trento, e não tinham sido aplicados.
Por isso, as homilias e pregações eram coisa de pregadores especializados, como os dominicanos ou jesuitas.
As celebrações normais não tinham homilia. O "trabalho" de um padre era celebrar os sacramentos, não evangelizar! Estamos ainda na plena europa da cristandade!
Afonso, seguindo o Concilio do seu tempo, Trento (hoje é o Vaticano II) vai insistir sempre nesta missão da evangelização.
Como vês, trata-se de outra época, com outros costumes. Por isso é perfeitamente normal a tua pergunta, Maria, e obrigado por a teres feito: ajuda-nos a clarificar isto.
Um abraço!

Sol da manhã disse...

Ahhhhhhhhhh!!!!!!! Agora sim entendi!

Muito Obrigado pela resposta.

Eheheheheh... eu sou assim meia (meia... meia é eufemismo, mas pronto!) ignorante nestas coisas... ao menos, assim vou aprendendo alguma coisa!

Obrigado pela paciência, Rui Pedro. Por me ires ensinando também um pouco de história.

Um grande abraço.